Aquele menino, desde pequeno, tinha as pálpebras meio caídas, o que lhe conferia um ar cansado.
Nascera com uma característica física que dava esse aspecto ao seu semblante. Mas quem o conhecia realmente, sabia que naquele rosto, havia janelas que davam acesso a uma alma compassiva.
Era alvo constate de piadinhas sem graça e maldosas.
A sua natureza introspectiva, mesmo com as constantes investidas dos coleguinhas, o fazia não revidar e nem se defender desses ataques. Parecia que não ligava, não porque se achasse melhor, mas porque os amava, assim como amava a natureza e os animais.
Quando alguém o aconselhava a dar um basta, revidar, apenas dizia: “Não tem problema. Eles não o fazem por maldade. Estão apenas brincando. Sei que são boas pessoas.”
E tem sido assim, sempre…
Parecia que sabia desde a mais tenra idade, que as pessoas projetam nos outros as suas dores, os seus medos, as suas vergonhas, seus sofrimentos.
E não havia porque se entristecer, não havia o que perdoar. As pessoas são assim, feitas de cicatrizes ou feridas mal curadas, que as levam a ter atitudes, às vezes aparentemente desumanas.
Mas ele sabia disso, enxergava isso, enxergava com o coração puro, e as amava…

Esse conto ilustra um assunto que afeta a todos nós – o complexo.
Ninguém nasce com complexos. Ninguém nasce se achando feio, burro, magrelo, gordinho.
Essas crenças se formam em nós, desde pequenos.
Vocês se lembram que numa publicação anterior falamos sobre o que é um paradigma?
Paradigma é um conjunto de hábitos, de ideias que são colocados na sua mente desde que você nasce e muitos deles acabam sendo considerados verdadeiros. O paradigma então, vira uma crença.
E a criança até os 7 anos precisa aprender muitas coisas (falar, comer sozinho, andar, etc), de modo que funciona como um gravador, captando tudo sem selecionar se o que ouve é bom ou ruim.
Percebem onde eu quero chegar?
Vejo muitas publicações maldosas sobre as características físicas das pessoas, nas redes sociais, inclusive com comparações pejorativas a personagens de filmes de terror e desenhos animados.
O que a maioria de nós não sabe (ou sabe e ignora) é que essas “piadinhas” podem causar enormes estragos na vida de uma pessoa: formação de complexos que levam a uma baixa autoestima, que gera insegurança, que pode levar ao fracasso nos relacionamentos interpessoais e insucesso profissional.
Algumas pessoas chegam a se matar.
Isso soa trágico demais? Talvez…
Mas é real.
Então, se todos nós já sofremos esse tipo de problema, cabe a nós não sermos responsáveis
por colocar complexos nos outros.
Precisamos ter olhos mais amorosos e compassivos…

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