Zona Rural – Os Pioneiros
Walter de Oliveira*
Os fragmentos da nossa história versarão, hoje, sobre os pioneiros da nossa zona rural. Aqueles intrépidos e destemidos homens e mulheres que, num longínquo tempo, afrontaram a hostilidade do sertão, dando início a uma verdadeira “operação de guerra” para transformar as nossas exuberantes matas nas também exuberantes lavouras, inicialmente de café e cereais, às quais se somariam mais tarde, além, do cultivo da alfafa os imensos e esmeraldados canaviais, trigais, a soja, os parreirais de finas uvas de mesa, centenas de estufas de olericultura e por fim, a agricultura familiar de um bem sucedido assentamento rural e hortifrutigranjeiros das nossas várias e acolhedoras “vilas rurais”.
Com vistas ao dito intento – buscar os nomes desses pioneiros – conduziremos o leitor de volta ao remoto ano de 1915, quando vamos encontrar Serafim Fernandes e João Figueiredo (também conhecido por João Alagoano) que, vindos de Santo Antônio da Platina (que segundo o historiador paranaense João Carlos Vicente Ferreira já existia desde 1880), atravessaram o Rio das Cinzas (à vau) na altura onde depois seria instalada a balsa do Corsini, e a golpes de foices e machados, abriram espaço em meio à mata e se instalaram na região hoje conhecida por “Perobinhas” (informações colhidas pelo autor junto a Mário e João Fernandes, netos de Serafim). Alicerçado em tal informação – a menos que surjam outras (fidedignas) contrárias – o autor acha justo que se atribua a Serafim Fernandes e João Figueiredo o título de pioneiros na “ocupação” das nossas terras com a finalidade precípua de usá-las para o cultivo de lavouras e o desenvolvimento de atividades afins, como a criação e engorda de porcos.
Achando lógico e razoável que o leitor possa alegar que tendo Eugênio Macaco vindo para a Invernada, ainda sertão e ter também ali feito plantação de lavoura, esse pioneirismo seria dele, o autor lembra que, pelo fato de a área “ocupada” por Eugênio Macaco haver se transformado em um “povoado” que chegou a ser elevado a Distrito Judiciário – com cartório, delegacia de polícia, correio, coletoria e etc. – essa área, urbanizando-se, perdeu a sua função agrícola, enquanto que as “ocupadas” por Serafim Fernandes e João Figueiredo consolidaram-se como áreas rurais. Com o passar de alguns anos outras famílias, também procedentes de Santo Antônio da Platina ou Jacarezinho, rumaram para a região escolhida por esses pioneiros, casos de Emílio Corsini, Domingos Fernandes da Silva, Francisco Borges de Medeiros, Francisco Pimentel da Silva, Juca Batista, Durvalino Pedroso, Dionísio Cardoso, João Bento da Silva, Leandro Ragazzi, Henrique Biggi, João Gomes Barreto, João Tavares de Oliveira, Joaquim Cardoso de Lima, Arlindo e Edmundo Primo Buzzato, João Batista de Souza (Batatão) e muitos outros.
No seu livro “O Paraná e Seus Municípios”, João Carlos Vicente Ferreira nos informa que no ano de 1906, os estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, firmaram o “Acordo de Taubaté”, proibindo plantações de lavouras de café naqueles estados, o que levou os seus fazendeiros a procurarem outras regiões para o cultivo dessa rubiácea, e o Norte do Paraná, foi o lugar escolhido por eles, e se transformou, a partir de 1920, no “Eldorado” dos “Barões do Café”, que aqui foram os irmãos Antônio, José, Renato e Sylvio de Almeida Sampaio, os também irmãos Targino e Sinésio Paes de Barros, Jorge Pacheco Xavier (Fazenda Vera Cruz), Arthur Pinto Lima, Alfredo Rinaldi Sobral e irmãos, Eloy Sim Caldas, Coronel Francisco Gomes Figueiredo, Jayme Carvalho Costa (Fazenda Carvalhópolis), João Aguiar (Fazenda das Perobas), Nomura Gomei Kaisha (Fazenda Nomura), Luiz Fleury Assunção (Fazenda São Luiz), Roberto Pires, Alceu Marques Ladeira, Juvenal Mesquita e outros que o autor fará constar do livro que lançará em novembro de 2022. A esse tempo (1920/1930), se estabeleceram como pioneiros no plantio de cana-de-açúcar, João Afonso (com alambique de cachaça e rudimentar produção de açúcar), no bairro Laranja Azeda/Porteira Preta e Rafael Mendonza, este apenas com alambique de cachaça, instalado na Água do Caixão e que em 1941, vendeu a Luiz Meneghel, cuja área de terra que o abrigava tornou-se parte do chamado “páteo” da Usina Bandeirante.
No início do ano de 1931, a Prefeitura Municipal de Jacarezinho (município ao qual pertencíamos) mandou fazer um levantamento estatístico, no qual a zona rural do Distrito Judiciário de Bandeirantes aparece com uma população de 11.350 habitantes, entre adultos, jovens, adolescentes e crianças, mostrando tal população, a pujança do nosso setor primário daquela época. Informa reportagem escrita por Ozório Gonçalves Nogueira (Gazeta do Povo/Curitiba, 20/06/1934), que o referido levantamento estatístico foi um fator preponderante para a criação do Município de Bandeirantes. A menção neste relato daquele levantamento é porque as pessoas integrantes da população rurícola ali referida são, dentre outros, os pioneiros da nossa zona rural, a iniciar por Serafim Fernandes e João Figueiredo. A nossa robusta e portentosa zona rural, carro-chefe da economia local, é composta – como ocorre em todos os municípios do interior do estado – por grandes, médias, pequenas e micro propriedades, cujos nomes dos seus donos pioneiros, constarão do citado livro em elaboração.
* Walter de Oliveira, 88, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932.