Povoado da Estação x Invernada – Uma Queda-de-Braço de Três Anos (conclusão)
Walter de Oliveira*
A criação do Município de Bandeirantes
Passada a turbulência e em clima estável, o povoado da estação, então já chamado por todos, de Bandeirantes, partiu para outra luta: a criação do município. Com vistas a esse fim, reuniram-se as lideranças de Bandeirantes e Invernada, e em 15 de junho de 1934 foi formada uma comissão composta por Ozório Gonçalves Nogueira, Otacílio Arantes Pereira e Asdrúbal de Figueiredo Gizzi, com a incumbência de providenciar o que necessário fosse. Como primeiro passo nessa direção, os três integrantes da comissão foram a Curitiba para uma audiência com o Interventor Federal Manoel Ribas, cuja audiência, que contou ainda com a presença do Secretário de Estado da Justiça, Dr. Raul Vaz, foi das mais proveitosas.
A exemplo da excelência da terra que representavam, as lideranças do ainda Distrito Judiciário de Bandeirantes (às quais agora se juntavam as de Invernada) se mostraram também de primeiríssimo jaez e brilho. Prova disso – do prestígio dessas lideranças – está no fato de que decorridos apenas cinco meses daquela audiência, em 14 de novembro de 1934, o Interventor Manoel Ribas sancionou a Lei Estadual nº 2.396, criando o município de Bandeirantes, com território desmembrado do município de Jacarezinho e jurisdição sobre os distritos de Santa Mariana e Cornélio Procópio. A instalação do município deu-se em 25 de janeiro de 1935, data em que tomou posse, por nomeação, nosso primeiro prefeito municipal, o engenheiro Raphael Antonacci. Sendo um dos principais objetivos da história homenagear feitos relevantes dos seus protagonistas, o autor tem por mui justo realçar aqui o valor da informação obtida de Ozório Nogueira – embora pessoa discreta que era –, de que um fator de suma importância para a celeridade da criação do nosso município (menos de cinco anos do início do “povoado da estação”) foi a publicação, em 20 de junho de 1934, na Gazeta do Povo, de Curitiba/PR, de uma reportagem em que ele, Ozório, escreveu sobre a pujança do Distrito Judiciário de Bandeirantes (incluindo sua robusta zona rural). Tal publicação ocorreu três dias após a audiência com o Interventor Manoel Ribas e sua repercussão teve significativo peso na decisão de sua Excelência em sancionar a lei da nossa emancipação política.
Segue-se um comparativo que é também uma homenagem às lideranças pioneiras de Bandeirantes. Dos doze municípios situados na bacia Cinzas/Laranjinha, Bandeirantes (da estação) foi o único povoado elevado a Município quatro anos e quatro meses e meio após a sua fundação. Dos outros onze municípios da região, Abatiá levou 22 anos, Andirá 16, Barra do Jacaré 28, Cambará 19, Jacarezinho 15, Cornélio Procópio 13, Santo Antonio da Platina 34, Santa Mariana 13, Santa Amélia 12, Ribeirão do Pinhal 23 e Itambaracá 32 anos. Tal façanha só foi possível graças a muito trabalho, dedicação e ao prestígio daquelas lideranças, cujas memórias fazem jus a este preito de reconhecimento pelos bandeirantenses de hoje.
Por tudo o que foi demonstrado até aqui, a partir da vinda de Carlos Borromei, no início do século passado, quando montou o seu acampamento para demarcar e dividir “Posse Fazenda Laranjinha”, em cujo entorno surgiu o povoado de Invernada, fica bastante claro (e provado) que a história de Bandeirantes vem dos princípios do ano de 1900, sendo oportuno lembrar que a data do início da história do município é uma coisa e a data da criação do município é outra. Os oitenta e sete anos de emancipação política do município, que serão comemorados neste ano de 2021, conquanto sejam da maior importância para a comunidade e atestem, com eloquência, a luta dos seus filhos no passado e no presente, ainda assim, eles representam apenas parte da história do município, a qual, conhecidos e pesados os obstáculos que foram enfrentados e vencidos por quantos a escreveram com as suas vidas, testemunhará sempre a ousadia, a raça e a fibra dos bandeirantenses.
O autor faz aqui o registro de um equívoco (de ordem legal) ligado à história de Bandeirantes. Como já foi dito, com a criação do nosso município, os distritos de Santa Mariana e Cornélio Procópio ficaram pertencendo à jurisdição de Bandeirantes. Cornélio Procópio, elevado a município apenas em 18 de janeiro de 1938, ficou, durante três anos e 10 meses, sob a jurisdição de Bandeirantes,todavia, a Lei nº 6.212/38, que criou o município procopense, extinguiu o município de Bandeirantes, que passou a ser território de Cornélio Procópio, porém, por um período de apenas 6 dias, quando em 24 do mesmo mês, o equívoco foi sanado pelo Decreto-Lei nº 6.282, devolvendo a Bandeirantes a sua autonomia político-administrativa.
NOTAS DO AUTOR
- Os fragmentos históricos que estão sendo semanalmente publicados nesta Folha do Norte Paranaense, são frutos de pesquisas que o autor vem fazendo, às suas expensas, já há dezenas de anos. Acontecendo de haver comprovados equívocos em quaisquer fatos neles narrados, o autor agradece a gentileza da colaboração e, comprovados os equívocos, serão feitas as devidas correções.
- Ao citar Ozório Nogueira e Eurípedes Rodrigues, o autor lembra que o faz por sua estreita convivência com ambos. Com Ozório, trabalhou dos nove aos onze anos (1941/43), “tocando “ a parelha de burros que movia a prensa de alfafa e quando o sucedeu, em 1962, como Oficial do Cartório de Registro de Imóveis da comarca. E com Eurípedes, trabalhou em 1953, como motorista de caminhão.
* Walter de Oliveira, 88, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932.