Quando pensamos em vícios, nos vem à mente drogas, bebidas, cigarro, sexo, comida, compras, trabalho. E agora, um ao qual muitos de nós está preso: internet. Não sou especialista no assunto, mas acredito que seja um tema de grande relevância.
Por esta razão, a reflexão de hoje é totalmente baseada nos estudos do Dr. Gabor Maté, um médico canadense especialista em doenças terminais, dependentes químicos e pacientes de HIV positivos. Ele atende pacientes altamente viciados e todos tem uma coisa em comum: o sofrimento e a morte precoce por HIV, hepatite C, infecções no cérebro, nas válvulas cardíacas, por suicídio, overdose, violência ou em acidentes.
Para ilustrar este cenário, ele cita a frase de um novelista egípcio que diz o seguinte: “Nada registra mais explicitamente os efeitos de uma vida triste do que o corpo humano”. Estas pessoas perdem tudo: saúde, beleza, dentes, bens materiais, relacionamentos e, por fim, a vida. Ainda assim, em sua maioria, nada os faz deixar os vícios. Por que são tão poderosos?
Uma frase dita por um paciente, nos leva a refletir: “Eu não tenho medo de morrer. Eu tenho medo de viver”. Por que as pessoas têm medo da vida? O que há de errado com o vício? Ou melhor dizendo, o que a pessoa ganha com o vício, que não tem sem o vício? O alívio da dor. É isso que ganham. A sensação de paz, de controle, de calma, ainda que seja temporário.
Então, a pergunta é: Por que essas coisas estão faltando na vida delas? O que aconteceu para que ficassem assim? Se observarmos, a maioria das drogas alivia a dor. Essa é a busca: saber o porquê da dor.
O vício traz o esquecimento de algo, de algum desconforto que temos, uma fuga de nós mesmos. Ele traz um alívio temporário, prazer temporário e a longo prazo, consequências bastante negativas. Tentamos preencher um vazio que sentimos, de fora para dentro. As pessoas altamente viciadas têm alguns pontos em comum: sofreram abusos durante toda a vida, iniciando desde a tenra infância, seja de cunho sexual, negligência, violência física, abandono físico e/ou emocional. Por isso, sofrem.
Há outro fator: o uso da droga faz com que as pessoas ganhem um pico de dopamina no cérebro, uma substância que dá motivação, incentivo, que flui no corpo quando estamos empolgados, curiosos em relação a algo, e quando buscamos comida ou um parceiro sexual. Sem a dopamina, não há motivação. E a droga em si não é viciante, porque muitas pessoas não ficam viciadas quando a experimenta. Comprar não vicia, assistir TV não vicia, tomar bebida alcoólica também não vicia.
Mas o que torna essas pessoas vulneráveis ao vício? Há uma outra substância, a endorfina, que torna possível a experiência de apego dos filhos aos pais e dos pais aos filhos. As drogas agem no sistema de endorfina. Quando essas pessoas sofrem abuso na infância, esses circuitos não se desenvolvem de forma apropriada e como consequência, não sentem ligação afetiva na vida. O cérebro fica suscetível ao uso de drogas. Assim elas se sentem normais, sentem alívio do sofrimento, sentem amor, como um abraço materno.
Então, antes de julgar pessoas que tem sérios problemas com vícios, sejam eles quais forem, precisamos ter um olhar mais compassivo e compreensivo.
Ninguém está nesta situação porque quer. Há por trás disso, dores, traumas, vazios, sentimentos de abandono, rejeição, que precisam ser olhados, acolhidos e tratados.
Precisamos refletir se as nossas atitudes estão contribuindo ainda mais para aumentar o vazio que essas pessoas sentem, ou se estão contribuindo para que elas o superem.
Cristie Ochiai
Apresentadora do Programa de TV na Web ConVida, Terapeuta em Constelações Familiares, Hipnose e Thetahealing