Matias Eduardo Chimbalandongo - Mestrando em História Píblica (UNESPAR)

Sob orientação da professora doutora Cyntia Simioni França, do Mestrado em História Pública da UNESPAR, pesquisador angola tem realizado profunda pesquisa sobre memória, identidade e representação social das mulheres Zungueiras, em Angola

O angolano Matias Eduardo Chimbalandongo, estudante e pesquisador da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), tem se aprofundado na realização de pesquisa sobre as mulheres Zungueiras da cidade do Lubango, interior de Angola, cuja inspiração deve-se a uma conversa com elas passando a perceber a necessidade de escutar vozes “outras” africanas” em paralelo as mulheres ricas e aquelas que têm nome na História de Angola, como possibilidade de trazer uma história a contrapelo.

É no mestrado de História Pública da UNESPAR (campus de Campo Mourão) que encontrou o espaço para realizar a pesquisa que se encontra em desenvolvimento, logo após a sua viagem da sua terra natal Caconda-Huíla-Angola para o Brasil, num trajecto Lubango-Luanda, Luanda-Doha-Katar, Doha-Katar-São Paulo e São Paulo-Campo Mourão, tendo percorrido 19.000 km para chegar à universidade brasileira e aprofundar-se na pesquisa. O pesquisador dialoga com o Grupo Odisséia e com as pesquisas da professora Dra. Cyntia Simioni França que acolhe as memórias como meio de produção de conhecimentos históricos, concomitantemente, orientadora do pesquisador.
“Zunga” é um termo da língua kimbundu (okuzunga) utilizado para adjetivar o ato de zungar, que significa rodar, girar, identificada como sinônimo de venda ambulante, sendo que zungar equivale a vender pelas ruas, por uma pessoa que vive da zunga e zunga para sobreviver.

As zungueiras estão em todo comércio de rua, arredores de armazéns e mercados municipais

Enquanto as condições sociais, a necessidade, a falta de auxílio e reconhecimento do governo permanecerem, a atividade continuará atraindo essas mulheres para as práticas informais como meio de sobrevivência.
Na visão do pesquisador, é necessário conhecer e assegurar a visibilidade, buscando formas de garantir as condições de vida mais justas, cuja efetivação passa “ouvindo” o “grito” das mulheres zungueiras, na cidade do Lubango.
Lubango está situada na província de Huíla que também compreende 14 municípios, sendo eles: quilengues, humpata, chibia, chiange, quipungo, caluquembe, caconda, chicomba, matala, jamba, chipindo, cuvango, gambo e lubango (Coucelo, 2010). Lubango é a capital da província de Huíla e a terceira maior cidade de Angola, do ponto de vista de organização administrativa. É uma cidade habitada por vários nativos (vanyaneka-nkumbi, ovimbundu, vangangela, tucokwe, bakongo, vambinda, ambundu e oviwambo) (Costa, 2020), bem como alguns estrangeiros (brasileiros, japoneses, chineses, portugueses, ingleses e libaneses). Existem pessoas de várias classes sociais como pessoas ricas, possuidoras de casas e carros de luxo. Mas, também na cidade circulam em sua grande maioria uma população composta por pessoas mais pobres e outras que, do ponto de vista de classes, são consideradas como pessoas de classe baixa.

Nessa localidade, a atividade do comércio é uma das práticas que sustentam os seus habitantes, podemos encontrar os mercados formais (Kero e Shoprit), mercados informais (Mutundo) e é dentro mercado informal, onde encontramos diversas senhoras zungueiras, que praticam atividade comercial conhecida como zunga, realizada nas artérias da cidade.
O cenário muda quando a vida começa a tornar-se difícil, devido à grande concentração da população nas cidades, fenômeno que se deu com o fim da guerra, com o êxodo das famílias refugiados para as cidades e a partir da década de 1990. Tudo isso causou a popularização das zungueiras, maioritariamente do sexo feminino, mas também de zungueiros, além de jovens e crianças.
O trabalho das zungueiras exige uma intensa mobilidade e é exercido de forma extremamente informal e precária, sem qualquer amparo legal e reconhecimento pelas autoridades municipais ou de esferas maiores. Além disso, elas são criminalizadas e perseguidas por fiscais municipais da cidade bem como expostas ao preconceito e rejeitadas por serem consideradas indesejáveis na cidade, um atentado contra a estética de uma cidade que persegue os ideais do urbanismo e as tentativas da ideia de “progresso” (Costa, 2020).

Por meio de ações repressivas, caracterizadas por extrema violência e sem poderem usufruir de qualquer tipo de proteção, as zungueiras seguem sem direitos e garantias sociais. Deste modo, elas revivem o mesmo martírio sofrido por suas ancestrais, obrigadas a trabalharem forçadamente às margens da lei (Costa, 2020).
As zungueiras estão em todo comércio de rua, arredores de armazéns e mercados municipais, vias públicas, praças, ladeiras e largos, ou seja, em todos os espaços públicos (Santos, 2011).  Muitas das zungueiras sonham também trabalhar como bancárias, professoras, enfermeiras, a governantes do país! E precisamos escutar essas suas vozes que gritam cotidianamente na busca da concretização de seus sonhos.
A experiência urbana é responsável pela estruturação de mentes, de modos de vida, de maneira que as cidades constituíram grandes centros de difusão cultural e continuam sendo grandes mercados de trabalho e de luta política, definitivamente lugares para mudanças sociais em Angola.

O caos, a superlotação, a desigualdade e a violência são fatores existentes em quase todas as grandes cidades do mundo, inclusive nos grandes centros econômicos do Norte, como Nova York. Restringir as cidades africanas ao discurso de crise é ignorar a emergência de múltiplos valores, da improvisação e das oportunidades presentes nesses espaços. Importante pensar as cidades africanas nas suas ambivalências, de modo que a riqueza e pobreza coexistem no mesmo espaço e são problemas engendrados historicamente.
Com o atual cenário angolano onde as demandas do capitalismo global se impõem enquanto regras para a modernização, a tendência tem sido de que essa razão demográfica entre cidade e campo se modifique.
As mudanças urbanas das últimas décadas, que impactaram as instituições e organizações sociais no campo e na cidade, tiveram e têm como resultado a desestabilização e desintegração social provocada por medidas incoerentes de ajustamento do espaço local Queiroz (2016). O presente pesquisador convida os leitores a acompanharem o desenvolvimento da pesquisa, que estará disponível no final de 2024.

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