A jovem Flávia Arruda Tápia, de Santo Antônio da Platina, se submeteu a cirurgia em 2018 e conta como foi a experiência

Regiane Romão

A cirurgia bariátrica ganhou espaço entre as pessoas que estão acima do peso. Um processo demorado que deve ser acompanhado, principalmente por psicólogos, já que o emocional de uma pessoa que passa por essa cirurgia fica bastante abalado. A artesã Flávia Arruda Tápia, de Santo Antônio da Platina, passou pelo procedimento em julho de 2018 e falou sobre a sua experiência ao jornal Folha do Norte Paranaense.

Flávia contou que desde a adolescência sofria com o sobrepeso. “Nunca fui magra, na adolescência eu era a gordinha da turma. Antigamente quem usava 40/42 já era considerada uma pessoa gorda. Era muito difícil, até em questão de amizades, porque eu sempre fui a patinha feia da turma”, recorda.

Aos 19 anos, Flávia entrou em depressão e devido a esta doença, passou a engordar e muito. “Cheguei aos 100 quilos. Vi que as coisas foram ficando mais difíceis. Nessa época eu procurei ajuda profissional e fui até Londrina me consultar com um médico para tentar fazer a cirurgia, porém não tive ajuda dos meus familiares. As condições financeiras também foram outro impedimento. Foi aí que comecei a aceitar o fato de ser gorda mesmo”, contou.

Durante uma mudança para São Paulo, novamente, Flávia enfrentou a depressão. Naquele momento a balança atingiu a marca de 120 quilos. Depressiva, sem apoio da família e sem condições financeiras, ela via o sonho de fazer a cirurgia bariátrica cada vez mais distante. Em 2017 ela engravidou, já não pensava mais na cirurgia e nem buscaria mais o procedimento. Mas com o nascimento da sua filha, Alícia Guillermina, surgiram várias dificuldades, especialmente de forma prática, como por exemplo, dar banhos na bebê era uma dificuldade, pois o apartamento que ela morava era pequeno e no banheiro não cabia a banheira. “Eu tinha que ficar abaixada no banheiro. Era um sofrimento porque eu sentia muitas dores. Até que um dia eu fui me olhar no espelho e não gostei do que eu vi.  Então eu pensei: vou mudar essa realidade, eu não quero mais isso para mim”, determinou.

O INÍCIO – Flávia conversou com o marido, Juan, e falou que ia atrás da cirurgia. “No começo meu marido foi contra, pois dizia que meu problema era a minha cabeça e não o meu corpo, e que eu tinha que procurar um médico. Disse a ele que eu ia atrás da cirurgia, e que se ele tivesse vontade, eu o apoiaria. O que iria fazer, era tanto por mim quanto pela Alícia”, enfatizou. E foi deste dia em diante que Flávia seguiu novamente a luta para realizar o procedimento da bariátrica. E foram vários meses persistindo, até que ela encontrou uma clínica em Suzano/SP. Em três meses, ela foi operada.

Antes da cirurgia, Flávia precisou anexar laudos de vários especialistas, entre eles, um nutricionista e um psicólogo, porque casos assim é necessário um acompanhamento maior, porque o pós-operatório é muito complicado. “Eu nunca consegui tomar o caldo salgado, sentia muito enjoo, não sei explicar o porquê, mas acho que o paladar fica muito aguçado e isso me fazia passar muito mal”.

Em se tratando da recuperação, Flávia relatou que não foi bem como ela esperava. “Quando saí do hospital estava muito bem, subia escadas, andava tranquilamente, porém eu não conseguia tomar os líquidos corretamente, e eu precisava tomar esse líquido a cada meia hora. E para piorar, havia feito a cirurgia no inverno e estava muito frio. Como não conseguia tomar o caldo salgado, eu só conseguia comer gelatina, e era muito ruim”.

Na sala pós-operatória ela lembra de sentir muita dor. “Quando acabou a cirurgia, os médicos me acordaram e eu lembro de sentir muita dor. Era como se o meu peito estivesse sendo aberto. A dor era tanta que eu não conseguia respirar. Lembro dos enfermeiros gritando que era para eu respirar. Mas após a morfina fazer efeito eu fui para o quarto e a dor passou”. Em casa, após quatro dias sem conseguir fazer as necessidades fisiológicas, ela pediu ao marido para comprar mamão, para conseguir ir ao banheiro, mas além disso Flávia se sentia muito fraca, dormiu praticamente o dia todo, como ela mesmo conta.

No domingo à noite, ela conseguiu evacuar, porém as fezes estavam muito escuras e ela então foi até ao médico e então novamente foi internada. Flávia estava desidratada e precisou ficar no soro com vitaminas. Após esse episódio ela se fortaleceu e a recuperação aconteceu de uma forma mais tranquila. “No início é muito difícil, eu sonhava que estava comendo, é muito duro, principalmente na dieta líquida. Quando passa para a fase pastosa é mais fácil”.

Dois anos após a cirurgia, Flávia eliminou 45 quilos, chegando a 76 quilos. No final do ano de 2020, devido à um tratamento de saúde ela chegou a 84 quilos, mas atualmente já perdeu quatro quilos.

A meta no início do tratamento era chegar aos 70 quilos, mas como Flávia mesmo explicou, ela é um ponto fora da curva e o seu emagrecimento não é tão rápido como o de algumas pessoas. “Tem pessoas que emagrecem muito rápido, que não conseguem comer e que o organismo passa a não aceitar várias coisas. Eu não sou assim. Meu médico dizia que isso era muito bom, porque meu organismo não rejeitava nada”.

Atualmente, para perder peso é necessário fazer dieta. “Agora tenho que fechar a boca e correr atrás. A gente relaxa, começa a comer besteiras, eu não tenho problema para comer nada, eu não passo mal, mas o meu médico diz que isso é muito bom”.

Agora para finalizar o procedimento serão necessárias as cirurgias reparadoras. “Preciso fazer sim, na barriga, coxas, peito, braços. Preciso entrar na justiça para conseguir fazer pelo convênio, porque eles entendem que é apenas procedimento estético, e sendo assim o convênio não cobre”.

Então estamos em um dilema aqui, porque surgiu uma vontade de ter outro filho, vamos decidir se teremos o nosso bebê em 2022 ou se darei entrada no pedido das reparadoras.

O MÉTODO USADO PELA FLÁVIA FOI O BYPASS – O Bypass Gástrico é também conhecido como Gastroplastia com Derivação Intestinal em Y de Roux, que é uma cirurgia invasiva, realizada com anestesia geral, por meio da qual reduz-se parte do estômago, de modo que o espaço para armazenamento de alimentos e a absorção de calorias sejam diminuídos.

Ainda, o procedimento faz com que a sensação de saciedade aumente e a vontade de comer por prazer e não por necessidade diminua, favorecendo um emagrecimento consistente do paciente e a adoção de melhores hábitos alimentares.

No Brasil, a técnica corresponde a 75% das cirurgias realizadas, consagrando-se como o método mais utilizado devido à eficácia e à segurança proporcionadas. Entretanto é importante saber que o método é recomendado apenas para pacientes com IMC superior a 40 kg/m² ou com IMC acima de 35 kg/m², mas que já tenham registrado algum problema de saúde em decorrência do excesso de peso. Ainda, muitas vezes, ele é indicado quando outras técnicas não apresentaram resultados satisfatórios.

A recuperação pós-cirurgia é considerada lenta, podendo levar de seis meses a um ano. A maior perda de peso acontece nos primeiros três meses. Cuidados gerais, como seguir rigorosamente a dieta passada pelo nutricionista, tomar suplementos vitamínicos, cuidar do curativo e outros detalhes recomendados pela equipe médica, devem ser levados a sério, tanto para evitar complicações como para garantir todos os benefícios potenciais do procedimento.

Ao realizar a cirurgia bariátrica, é comum sentir náuseas, cólicas intestinais, azia e outros sintomas. Caso o problema persista ou complicações graves apareçam, é necessário consultar a sua equipe médica.

Antes de realizar a cirurgia bariátrica, seja por meio da técnica de Bypass Gástrico ou qualquer outra, é importante encontrar um profissional de confiança e uma equipe transdisciplinar preparada para atender as particularidades do seu caso, garantindo um pré e pós-operatório.

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