"Madeireira São Domingos" de propriedade de Paulo Domingos Rgalmuto Coffa.

ÁGUAS YARA – A “DEUSA DAS ÁGUAS”

* Walter de Oliveira

É público e notório a lamentável situação de ruína a que há muito está relegada uma das maiores riquezas naturais do nosso município, as Termas Yara, mais conhecida por todos como “Águas Yara”, não obstante a luta e os esforços dos seus atuais proprietários – Rafaela e Cláudio Delgado – para levá-la, novamente, ao seu protagonismo de outrora e ostentar, com orgulho, o título deste artigo, Águas Yara – a “Deusa das Águas”, que lhe deu o seu fundador, na longínqua década de 1940.

O fascínio e o “glamour” da “Águas Yara” das décadas de 1940-1980, tinha seu começo na sua imensa piscina de água mineral hipotermal magnesiana cloro-sulfatada, captada de um lençol freático a 106 metros de profundidade e nela jorrada, sob pressão natural, por sobre a cobertura em formato de chapéu de um “chafariz” central, festiva e aguerridamente disputado pelos banhistas que ali acorriam. O autor fala de uma cena, que certamente foi vista e mesmo protagonizada por muitos dos leitores que o honram com a leitura destas linhas.

“Posto Energina”, de propriedade de Paulo Domingos Rgalmuto Coffa.

Bandeirantes dos anos 1940-1980 teve na “Águas Yara” um dos maiores difusores e propagadores do seu nome, chegando ao ponto de nos finais de semana, feriados prolongados, carnavais e finais de ano (em razão de Termas Yara), ser o destino de famílias não só dos municípios adjacentes, como dos mais distantes, até mesmo de outros estados da federação – a partir de Jacarezinho, Londrina, Apucarana, Maringá, Ponta Grossa, Curitiba, Bauru, São Paulo, Rio de Janeiro e outros. Respondia por essa procura e preferência, além das delícias da referida piscina, o romantismo bucólico do sítio que abrigava o complexo termal, a refinada gastronomia do seu restaurante (a partir da solene presença de um “maitre” (um luxo para a época), sem contar, para os hóspedes da estância, o desfrute de um tranquilo e reparador sono nas confortantes camas dos duzentos acolhedores apartamentos do seu hotel (o autor fala de experiência própria por nele ter morado durante sete anos).

O até aqui relatado é apenas o “prólogo” do que ainda será descrito neste e outros artigos que se seguirão sobre essa verdadeira “pérola” descoberta no seu estado ainda primitivo por um italiano que se naturalizou brasileiro e depois por ele tão carinhosa e cuidadosamente tratada, até ganhar todo seu jaez e brilho que a tantos fascinavam, para estar agora como está. Um trágico exemplo do patinho feio que se transformou num belo e admirado cisne e que, por motivos vários (inclusive a inércia do poder público local), fez o caminho inverso. Mas antes de avançarmos na história propriamente dita de “Águas Yara”, falemos um pouco de seu idealizador e fundador, Paulo Domingos Regalmuto Coffa (ao qual o autor também prestou serviço, quando cartorário da ativa).

Mais conhecido e chamado por “seo” Domingos Regalmuto, o fundador de “Águas Yara” residia na cidade de São Paulo e era um próspero e bem-sucedido empresário nos ramos da transformação de madeira e litografia. Seu parque fabril se situava na Vila Mariana, avenida Domingos de Moraes e ocupava o espaço de um quarteirão inteiro. O setor de transformação da madeira era abarcado pela serraria que se denominava Serraria e Carpintaria Saúde, ligado ao qual funcionava a litografia. A exemplo de centenas de capitalistas e de empreendedores de várias regiões do país, Domingos Regalmuto também se rendeu ao fascínio de tudo o que se propalava nos altos círculos e rodas dos endinheirados, sobre o mais recente fenômeno financeiro da nascente década de 1930: o Norte do Paraná. Ora, sendo a madeira “in natura” a principal matéria-prima para o seu bem montado negócio e informado que as nossas exuberantes matas eram em si mesmas um incomparável “estoque” das mais variadas espécies de madeira, Regalmuto não pensou duas vezes. Fazendo-se acompanhar da sua elegante esposa, Beatriz Brassi Regalmuto, já no último quarto da década de 1930, desembarcava em nossa estação ferroviária o homem que, mercê da sua capacidade de conjugar visão, conjectura e ação, faria, em poucos anos, a nossa Bandeirantes da década de 1940, ficar conhecida em muitas regiões brasileiras, em razão da fama que ganhou a “Águas Yara”.

O ilustre casal ficou hospedado no único hotel que a cidade dispunha à época, o Hotel Minho, do português João Batista de Souza, mais conhecido por João Guimarães. O Hotel Minho foi, por um bom tempo, o “escritório” do “seo” Domingos Regalmuto, que em pouco tempo da sua chegada, contaminado (no bom sentido) pelo clima de otimismo e euforia reinante em todo lugar que ele ia, ao que se somou o baixo custo das terras à venda na região, já era dono de algumas centenas de alqueires dessas terras, que decorridas mais de oito décadas desde então, continuam das mais férteis do mundo. Regalmuto comprou terras na ainda nascente cidade, onde hoje se situa a Vila e Jardim União, também no aclive próximo à ACEB e ainda na baixada onde está o Posto Aliança, a Oficina Oda e o poço artesiano do SAAE – cuja área onde este se encontra ainda está em nome de Paulo Domingos Regalmuto Coffa. Mas a sua maior aquisição de terras foi na região rural (uma área de 500 alqueires aproximadamente), que ele logo denominou “Fazenda São Domingos”, sobre parte da qual ele instalaria, tempos depois, o complexo termal, que descreveremos nos próximos artigos.

Onde hoje se situa a Vila União, Regalmuto instalou a serraria, também denominada “São Domingos”, uma das mais potentes da região e que, a exemplo da serraria de Antenor Moretti (a primeira montada no município), era acionada por uma potente locomotiva a vapor, firmada sobre uma base de concreto e que movia: serra vertical, serra francesa, serra circular simples, serra circular destopadeira e plaina para o preparo de assoalhos e forros. Grande parte do que era desdobrado na serra vertical, seguia, em caminhões próprios, para a Serraria e Carpintaria Saúde, em São Paulo, para onde também seguiam, em vagões-gôndolas da ferrovia, toras de madeira extraída das suas matas.

(Continua na próxima edição)

* Walter de Oliveira, 89, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932.

1 COMENTÁRIO

  1. Sr. Walter,
    Há meses atrás. tentei contato com o Sr. através do Sr. Fausto (do cartório) para obter informações sobre a trajetória do Sr. Paulo Domingos. Sou casado com uma das netas do Sr. José Luiz Regalmuto Coffa, sobrinho do Sr. Paulo, responsável pela Litografia. (Pode ser que o Sr. o tenha conhecido). Estou escrevendo a história da Família Regalmuto. Tenho feito muitas pesquisas nos últimos dois anos, tentando reconstruir a saga da família, desde a terra de origem; a pequena “comuna” Capizzi, na Sicília.
    Quero parabenizá-lo pela matéria, e espero ansioso pelos próximos capítulos. A dificuldade que enfrento é conseguir esses artigos da Folha do Norte do Paraná. Só consegui, navegando insistentemente pela internet. Agradeceria muito se o Sr. pudesse facilitar meu acesso ás suas crônicas. Abaixo segue meu nome e emai. Meu telefone é (11) 97427-8080.
    Um abraçol

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