Paulo Domingos Regalmuto Coffa e Guilherme Sachs

ÁGUAS YARA – A “DEUSA DAS ÁGUAS”

(Segunda parte)

Walter de Oliveira*

Nos fragmentos históricos do artigo anterior, falamos até o momento em que Domingos Regalmuto montou a sua serraria, que funcionava onde é hoje a Vila União. Retomamos hoje o assunto quando ele contratou como seu administrador-mor, Guilherme Sachs, sob cujas ordens e supervisão ficaram todos os negócios e atividades locais daquele industrial paulistano, inserido agora no rol dos seus confrades paranaenses. Secundava Guilherme Sachs nas suas importantes funções o seu filho Waldemar Sachs (ao qual competia exclusivamente a administração do posto de combustíveis), do qual é filho o professor da Uenp, Luiz Guilherme Sachs. Muitos anos depois e em razão do falecimento de Guilherme Sachs, seu filho assumiu aquele cobiçado posto, no qual ficou por longos anos, até que, também em função da sua morte, assumiu essa posição de comando, Antônio Portugal, pai dos professores da Uenp, Antônio Portugal Filho e Reginaldo Portugal.

Como uma informação à atual geração bandeirantense, o autor lembra que Guilherme Sachs foi sogro do ex-prefeito Moacyr Castanho e também de Antônio Portugal. À guisa de emprestar maior solidez à sua narrativa histórica, o autor destaca ter conhecido, além de Guilherme, Waldemar, Antônio e outros, as seguintes pessoas: José Gomes, gerente da serraria, Napoleão Ravagnani, na função de “tirador de pó-de-serra”, acumulado sob as máquinas e Alberto Ravagnani, como operador da serra vertical, sendo esses últimos, respectivamente, avô e pai de Hélio Ravagnani (da loja Heligaz). Afora a serraria, Regalmuto Coffa instalou ainda, nas áreas que possuía na cidade, posto de combustível e lubrificante (Posto Energina), oficina mecânica e tornearia (esta operada nos últimos anos, pelo torneiro Augusto Mania, que muitos leitores chegaram a conhecer). Os remanescentes dessas áreas urbanas ele usou para loteamentos residenciais, como no aclive rumo à ACEB.

Ainda aqui na cidade e no entorno da serraria, Regalmuto fez várias casas geminadas, destinando-as para sua moradia, moradia dos seus funcionários e escritório, no qual trabalhava (antes de ser telegrafista e bilheteiro da estação férrea e, posteriormente, escriturário da Usiban) Izidoro Pinilha Montoya, que chegou certamente a ser conhecido de muitos dos leitores e falecido já há alguns anos. Já no final dos anos 40, em uma dessas casas (hoje residência do casal de engenheiros agrônomos Lucília e Luiz Carlos C. Penteado Jr.), veio morar o ilustre e festejado professor Mailon Furtado de Medeiros, de saudosa memória e que em 1949, usando uma das salas da casa, ali instalou e fez funcionar o “Curso de Admissão ao Ginásio”, onde ele próprio e competentemente lecionava as cinco disciplinas curriculares (português, matemática, ciências, geografia e história). O autor o diz, por ter sido um dos alunos desse curso. Encerrando aqui o “prólogo” iniciado no artigo anterior, passaremos agora à origem e surgimento de “Águas Yara”.

Como todos nós sabemos, “Águas Yara” está situada a nove quilômetros da cidade, à qual é ligada pela rodovia estadual PR-34 (Rodovia Tsuneto Matsubara – nome que lhe foi dado por projeto do então deputado Hermas Eurides Brandão), antes uma precária estrada de terra e que foi asfaltada pelo governo do estado – que faz a sua manutenção em razão exclusiva da “Águas Yara”, como mais adiante narraremos. Contava o próprio Domingos Regalmuto, que em estando aqui em Bandeirantes, era um seu hábito dominical andar pelas matas que cobriam a sua extensa área de terras, às vezes caçando (o que então era permitido) ou procurando descobrir lugares com maior número de árvores das espécies que mais o interessavam. E foi assim, numa dessas incursões nas suas matas, que em fins do ano de 1939, ao se abaixar para pegar uma fruta que caíra de um “jaracatieiro” (este, juntamente com o “jaborandi”, a “figueira branca” e o “pau-d’alho” – abundantes naquelas matas – são seguras indicações de terras férteis), sentiu exalar do úmido e enfolharado chão um forte cheiro de enxofre, fato que o intrigou sobremaneira. Já na manhã seguinte contou a Guilherme Sachs o acontecido e expedito como era, passou a este as instruções pertinentes e fazendo-se acompanhar de Sachs e alguns “peões” com foices e machados, os quais, chegando à borda da mata, abriram uma “picada” até o local do tal barro, do qual coletaram uma porção, que Regalmuto encaminhou para análise laboratorial em São Paulo. Passado algum tempo, “seo” Domingos tinha em mãos o resultado da análise solicitada, que confirmava a suspeita que o assaltara desde o início: o laudo laboratorial sugeria a existência de água mineral no subsolo daquele local.

Ante tal quadro, Domingos Regalmuto contratou uma empresa de perfuração de poços artesianos, cujas máquinas em poucos dias adentravam aquelas matas e assustavam os abundantes pássaros e animais silvestres que as povoavam, pelo ronco de motor e a inusual movimentação de pessoas, um verdadeiro abalo naquele sertão, eis que o ritmo de trabalho determinado por Regalmuto foi o mesmo que, em 1956, Juscelino Kubitschek imprimiria na construção de Brasília: dia e noite, vinte e quatro horas sem parar. O clima de expectativa ansiosa foi de curtíssima duração, pois mal se encerrava a semana de início da perfuração (e muitos dos presentes – menos Regalmuto – não disfarçavam a sua descrença no êxito da empreitada), quando a “broca” intrusa chegou aos 106 metros de profundidade e bingo! Um forte jato de água de temperatura e cheiro diferentes, expelido pela pressão do seu lençol freático, deu um banho em quantos ali estavam. Foi também uma explosão de alegria. Todo mundo – trabalhadores na perfuração, curiosos e sobretudo Domingos Regalmuto – queria participar do primeiro banho, uma espécie de batismo daquela que, tempos depois, receberia o nome de Yara, a deusa das águas, segundo a mitologia pátria.

 (Continua na próxima edição)

* Walter de Oliveira, 89, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932.

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