Vista panorâmica da piscina e do hotel

Águas Yara – A “Deusa Das Águas”

(Quinta parte)

*Walter de Oliveira

Retomamos hoje nossos fragmentos a partir do dia da inauguração da piscina, cuja primeira travessia foi cumprida pelo próprio Paulo Domingos Regalmuto Coffa. A partir daquele momento a vontade da maioria das pessoas ali presentes era de logo mergulhar e nadar naquelas cristalinas e cálidas águas. Já não bastasse isso, o aviso de que o ingresso à piscina (que em todos os seus 40 anos de funcionamento teve um custo monetário) naquele dia seria uma cortesia da casa, aumentou tanto o interesse do público em procura-la, que os seus 3.000m2 não os comportariam a um só tempo. A única solução para o impasse, foi dividir os presentes em três turnos de duas horas e meia cada e ainda assim, os últimos banhistas deixaram a piscina com o pôr-do-sol.

Jantar de Instalação do Rotary Club de Bandeirantes, no salão do restaurante – 1949

Àquele festivo domingo, milhares de outros se seguiram, como também milhares de feriados, sobretudo os prolongados, nos quais era a Águas Yara a delícia das suas tardes e não somente para bandeirantenses, como para os moradores das cidades próximas e distantes, que geralmente para ali vinham em ônibus de excursão, que chegaram a trinta e dois num único domingo. E lembrem os leitores, que aquelas pessoas tinham um sério problema pela frente: a estrada de acesso a Águas Yara (hoje, graças exclusivamente a essa mesma água coberta por asfalto da melhor qualidade, a PR-519) era uma estrada de terra e ainda por cima mal conservada. Em uma época em que não havia a segura previsão meteorológica de hoje, era comum acontecer o desabar imprevisto de um aguaceiro. Então, a um sinal mais patente de que ia chover, era aquele corre-corre, e os ônibus e veículos se punham na estradinha que em pouco era um poeirão só, mas sempre preferível a ficarem encalhados nos atoleiros dos morros da Água da Jacutinga e do Matadouro Municipal. Porém, passado o episódio e chegado o próximo domingo ou feriado de sol, o povo se esquecia de tudo e lá ia de novo todo mundo para Yara. E isso, por mais de quarenta anos seguidos. Só de ler ou ouvir falar, é difícil acreditar no fascínio que a Águas Yara exercia sobre aqueles que a conheciam.

Com o êxito nas vendas de água mineral, repetido no funcionamento da piscina, Regalmuto se voltou então para a última parte do plano que concebera após a sua descoberta mineral: a construção do Hotel Termas Yara. Contava Pedro João Crosato, lugar-tenente de Domingos Regalmuto, que o plano de construir o hotel se deveu à influência do que ele conhecera de empreendimentos similares na Europa, mas influenciou-o também nessa decisão o exemplo do mineiro e megaempreendedor  Joaquim Rolla, que além de ser dono do Cassino da Urca, no Rio de Janeiro, havia, há pouco tempo, construído em Petrópolis/RJ, o Palácio Quitandinha (hoje propriedade do SESC), que além de abrigar o famoso cassino de mesmo nome, foi palco dos mais memoráveis shows artísticos e eventos sociais do país nas décadas de 1930 e 1940, com as presenças de superestrelas dos casts nacionais (Carmem Miranda, Grande Otelo e outros) e internacionais (Lana Turner, Jean Sablon e etc.) e personalidades do mundo da política e dos negócios, como o Presidente Getúlio Vargas e o empresário e jornalista Assis Chateaubriand. Apesar de Regalmuto ser um homem prático e calculista, dizia Crosato, que na decisão de construir o hotel o seu entusiasmo falou mais alto. Nas palavras desse mais próximo auxiliar de Regalmuto, ser dono de um icônico hotel-balneário, com um cassino de “roleta”, “pôquer” e “bacará”, onde os perdulários donos de grandes fortunas e/ou herdeiros destes jogariam (como é fato) milhões por noite e o percentual – também chamado de “barato” – de 10 por cento cobrado pelo cassino sobre o montante movimentado, não era um negócio para ser desprezado. Todavia, o cassino de Termas Yara jamais foi inaugurado e o autor mostrará mais adiante porque isso aconteceu. Primeiramente vamos a algumas informações sobre a parte da hotelaria.

O hotel sofreu uma alteração no funcionamento de seu projeto original, e no pavimento térreo foi concluído e entregue ao público apenas a sua parte frontal, onde funcionava o serviço de bar e lanchonete, atendendo as centenas de hóspedes do hotel e os usuários da piscina, e no pavimento superior foram concluídos os duzentos apartamentos, salão nobre e as dependências do cassino. Por sugestão da Planurba (encarregada das obras), Regalmuto mandou construir próximo ao hotel um prédio térreo que abrigava o restaurante, cozinha, salão de festas, salão com palco à guisa de um teatro, lavanderia e dependências para os funcionários, recepção do hotel e escritório. Todos os famosos bailes de carnaval da Águas Yara foram realizados ali, assim como várias peças teatrais, congressos, jantares do Rotary Club de Bandeirantes, sendo que o último e importante evento ali realizado foi no início da década de 1970: o Primeiro Encontro do Ministério Público do Paraná, presidindo-o Procurador Geral do MP paranaense, Erasmo Maranhão, cuja abertura foi feita pelo anfitrião do evento, o então prefeito Jamil Fares Midauar, que impressionou os presentes com memorável discurso. Também é mister seja anotado que à mesma época Águas Yara sediou – e desta feita no salão nobre do hotel – audiência concedida pelo então Governador do Estado, Jayme Canet Júnior, ao prefeito Jamil, prefeitos dos municípios vizinhos e líderes políticos de Bandeirantes e região.

Prestadas tais e pertinentes informações, o autor retrocede e explica aos leitores o porquê do cassino do Hotel Termas Yara não ter sido sequer inaugurado quando o pavimento superior do hotel foi concluído. Tudo ia muito bem no mundo dos cassinos brasileiros, até o dia 30 de abril de 1946, quando ao completar quatro meses do seu mandato como presidente da república, o General Eurico Gaspar Dutra assinou o Decreto-Lei nº 9.215, proibindo os chamados “jogos de azar” em todo o território nacional. O ato presidencial, que caiu como uma bomba nesse ramo de negócios, deixou milhares em polvorosa. Segundo as notícias da época, só de gente que tinha ali o seu ganha-pão, trinta e sete mil pessoas ficaram sem emprego. Projetos frustrados, como o caso do cassino de Águas Yara, foram centenas. Mas ainda assim Regalmuto não se abalou. Assimilou o impacto e partiu para o projeto que ele considerava como a “joia da coroa” de todos os seus empreendimentos, incluindo o seu parque fabril paulista: a “Cidade Yara”.

 (Continua na próxima edição)

* Walter de Oliveira, 89, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui