ÁGUAS YARA – A “DEUSA DAS ÁGUAS”
(Sétima parte)
Walter de Oliveira*
Dissemos no final do último artigo (dia 09/10) que no dia de hoje falaríamos sobre os “porquês” da tão propalada “Cidade Yara” não ter ido bem desde o seu início e por fim “não ter saído do papel”, o que é de muito se estranhar, posto que todas as iniciativas aqui tomadas por Regalmuto foram exitosas. Mas a “Cidade Yara” foi a exceção da regra. Um sonho que terminou com o “despertar” do sonhador; um despertar que começou, como vimos no artigo passado, com a grave enfermidade que acometeu aquele indômito e audacioso empresário. À sua ausência, a barca – o projeto – da qual ele era o timoneiro, ficou à deriva e acabou por ir a pique ao se chocar com os rochedos surgidos à sua frente. Tais rochedos, segundo Pedro João Crosato, o já dito lugar-tenente de Regalmuto, foram as repetidas e manifestas indiferença e má vontade do poder público local de então – leia-se PREFEITURA MUNICIPAL DE BANDEIRANTES – às demandas apresentadas por Regalmuto, que não iam além da boa conservação – que à época nunca existiu – da estrada que ligava Bandeirantes ao projeto. Dizia Crosato que até já decorara a resposta da prefeitura aos seguidos pedidos de Regalmuto nesse sentido: “a semana que vem as máquinas irão”. Uma semana que não raro, representava seis meses de espera, e concluía: a prefeitura da época se esquecia de que foi “seo” Domingos quem doou ao município cinco alqueires das suas terras para a construção do aeroporto, um dos mais geograficamente bem situados de toda a região norte do estado.
Os compradores de datas de terras no projeto da “Cidade Yara” (seiscentas e sessenta datas foram vendidas) compraram-nas “no mapa”, ou seja, sem conhecer o lugar e baseados somente na confiança e credibilidade do nome Paulo Domingos Regalmuto Coffa e também da Planurba S.A., que fez as vendas. Ora, obviamente que essas pessoas viriam uma hora conhecer as anunciadas belezas e atrativos do lugar em que construiriam suas casas e, quiçá, mansão, dependendo das posses do comprador, e onde passariam temporadas e dias de lazer ou até mesmo morariam. Tais pessoas pensavam em aqui chegar trafegando por uma estrada bem cuidada, ladeada de plantas ornamentais, flores e coisas assim. Mas, ao contrário disso, esperavam-nas uma estradinha esburacada e poeirenta, em cujo leito abundavam pedras soltas e algumas incrustadas no seu centro, caso dos morros da Água da Jacutinga e do Matadouro Municipal. Ou seja, a expectativa que alimentavam desde o momento da compra das suas datas de terras e durante aquela viagem, num átimo de tempo se desfez como a névoa, dando lugar a um total desencanto e frustração.
Como as compras dessas datas foram feitas mediante o pagamento de um valor de entrada e o restante do preço seria pago em prestações, e rezando os contratos do negócio que o não pagamento de um “X” de parcelas implicaria na sua automática rescisão, os compradores – parece que até combinados – um a um, preferiram perder o valor dado de entrada, não pagar as prestações vincendas e deixar decair o contrato. Em um ano de lançamento daquele tão sonhado projeto, os noventa e dois alqueires seu objeto eram de novo área de pastagem e cultivo agrícola. Adeus à sonhada “Cidade Yara”
Assim, nos valendo daquilo que vivenciamos e das informações outrora ouvidas de Pedro João Crosato, cumprimos com o prometido aos que nos honram com a sua atenção, e que agora conhecem os motivos e os “porquês” a “Cidade Yara” não saiu do papel. Um fato dos mais lamentáveis, posto que se ao invés do fracasso, aquele ousado projeto tivesse prosperado, a nossa já pujante Bandeirantes figuraria desde longo tempo com muito maior brilho e destaque, não apenas entre as cidades do Paraná, como do país. Consideremos que apenas por conta do conjunto fonte-hotel-piscina-Yara, Bandeirantes já conta com um dos mais bem situados aeroportos do norte do estado e é dos raros (senão o único) municípios paranaenses a contar em sua malha viária com uma rodovia estadual (PR-519) de nove quilômetros totalmente asfaltados. Imagine, então, o que seria a nossa cidade, se além do robusto comércio que tem e de sediar a mais tradicional indústria sucroalcooleira do estado (e maior geradora de empregos da região); se além de possuir dois câmpus universitários e dentre outras importantes empresas, uma do porte da Nutritop, produtora de ração, sem esquecer o invulgar privilégio de mostrar ao Brasil o monumental Santuário de São Miguel Arcanjo (a Gruta Nossa Senhora de Lourdes e a segunda mais alta cruz do mundo, construída em aço) e seu vizinho e promissor Resort Morro dos Anjos (em construção), ainda se desse ao luxo de ter por apêndice uma cidade-balneária, servida por uma água mineral com as qualidades da Água Yara?
Diria alguém que tais condicionais são perda de tempo, por se tratar de coisa pretérita. Talvez o seja, mas se a administração pública local decidir apoiar os planos e os esforços que os proprietários atuais da Termas Yara vêm envidando no sentido de lhe devolver a vida, não será coisa pretérita, e a cidade, os bandeirantenses e a população de toda a nossa circunvizinhança, poderão de novo usufruir das vantagens que a sua reativação pode representar, bastando ver a grande simpatia, estima e amor que todos têm por Águas Yara. Aliás, pesquisa de opinião pública nesse sentido, feita pela empresa Dataprévia, de Jacarezinho, mostrou que 90% dos entrevistados se mostraram favoráveis à reativação de Águas Yara.
Caminhando agora para o final deste artigo, cumpre também lembrar que foi em razão da Termas Yara que, em 1951, chegou em Bandeirantes um nortista bem proativo, palavreado fluente e castiço, que depois de gerenciar competentemente aquelas termas, então arrendadas para Jacob Elias Issa, aqui constituiu família e se enveredou pelo ramo da radiodifusão e depois na política, ou seja, após assumir a vereança local (1955), foi vice-prefeito (1969/72) e prefeito municipal (1973/76), um dos mais atuantes da história do município. Nos referimos a Jamil Fares Midauar, cujos feitos administrativos serão – bem como os dos seus demais pares – tratados em futuros e específicos artigos.
(Continua na próxima edição)
* Walter de Oliveira, 89, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932.