Máquinas da Construtora Triunfo trabalhando nas obras de terraplenagem da Estrada da Yara.

Águas Yara – A “Deusa Das Águas”

(Décima sexta parte)

*Walter de Oliveira

Águas Yara – O despertar da Deusa Adormecida

Chegamos enfim ao tão esperado último artigo sobre a história da “Deusa das Águas”, presentemente adormecida. Foram dezesseis ao todo. Ao ensejo agradecemos a gentil atenção de quantos nos acompanharam nesta caminhada. É de justiça, com a permissão dos demais, enfatizarmos os nomes de Renata Müller (filha de Rudolph Müller, primeiro gerente do Hotel Yara) e João Carlos Gerin (sobrinho-neto de Domingos Regalmuto). Esse preito o apresentamos por nos terem enviado raras e valiosas fotos que ilustraram alguns dos nossos artigos e as usaremos ilustrando nosso livro, a ser lançado no próximo ano, se Deus quiser. Também destacamos a importantíssima contribuição dos membros do grupo “Bandeirantes-PR”, no Facebook, pelas demais raridades fotográficas que temos usado.

Casal Cláudio Delgado e Rafaela Silva Martins, atuais proprietários de Águas Yara.

Como já mostramos, apesar do empenho de Jamil Fares Midauar e da nossa modesta participação, a autorização do asfalto da Yara veio depois de encerrado o seu mandato de prefeito, sucedendo-o no cargo, José Fernandes da Silva, em cuja gestão o asfalto foi feito e inaugurado. Confessamos que tendo a alvíssara autorizatória se dado “depois” de Jamil, preocupava-nos a hipótese de se pairar dúvida de a quem caberia o mérito do município ter recebido uma tão importante e “cara” obra asfáltica (o ofício que recebemos anteontem do eminente deputado estadual Luiz Cláudio Romanelli e publicado nesta página do jornal, informa o seu custo: Cr$ 28.814.450,93). Para eliminar tal hipótese (de quem o mérito) obtivemos à época, através do deputado estadual Fuad Nacli o ofício nº 196/77, de 12 de maio de 1977, da Secretaria de Estado dos Transportes, que esclarecia que “o asfaltamento do acesso à Thermas (sic) Yara atendeu à solicitação do ex-prefeito Jamil Fares Midauar, e que foi publicado no jornal “O Bandeirante”. Esse documento “jogou uma pá-de-cal” sobre o assunto: mérito da gestão Jamil.

Enquanto as obras não começavam, D’Andrea não perdia um minuto sequer e prova disso foi a viagem que empreendeu – em companhia do filho Júlio Cesar e da qual participamos, a oito cidades-estância (de São Paulo e Minas Gerais), começando por Águas da Prata e terminando em Serra Negra. O objetivo dessa viagem foi conhecer aquelas modernas estâncias às quais ele queria que Águas Yara equivalesse. Afora isso era seu plano dotar Termas Yara de outros atrativos tais como clube de campo e circuito de automobilismo, se avistando, por conta disso, com “experts” nessas áreas. Caso dos diretores do Santa Mônica Clube de Campo, em Curitiba e do implantador do megaempreendimento residencial-recreativo “Terras de São José”, em Itu/SP. Todos estiveram em Águas Yara e preconizaram cem por cento de êxito para os seus avançados planos. Por último e visando a dar a máxima segurança e tranquilidade para os “habitués” do seu complexo termal, D’Andrea mandou fazer rigoroso “reforço” na fundação e estrutura do prédio do hotel, sendo essa, infelizmente, sua última participação na sua querida Águas Yara. Acometido de um incurável câncer, D’Andrea faleceu sem ao menos ouvir o funcionar das máquinas que fizeram o asfalto que tanto sonhara e sobre o qual jamais dirigiria a sua VW Brasília.

Terminado o asfalto, chegou o dia da sua inauguração, na qual, pelo tempo que passou desde então, não nos lembramos se Jamil Fares Midauar tomou parte. Nós estávamos presentes. Não entre as pessoas do “palanque”; entre as pessoas da assistência. E como já esperávamos, nos muitos discursos feitos, nem uma menção ao nosso nome. Aliás, para nós (e também para Jamil) o importante não era ouvir nosso nome ser citado em discursos e rapapés; o importante era ver o asfalto que ali estava, servir à Águas Yara e às centenas de propriedades rurais situadas ao longo da sua passagem.

À ausência de D’Andrea, seus filhos (Júlio Cesar, Márcio Antônio e Vânia) não deram prosseguimento aos planos que ele tinha para Águas Yara e permutaram-na por uma área agrícola da família Matsubara, em Cornélio Procópio. A partir de então e sob uma gestão não tão eficiente, Águas Yara foi definhando, até a sua fatal desativação e desta ao estado de ruínas em que se encontra.

É mister façamos agora, uma rápida viagem ao passado, à época da colheita de algodão e adentremos em uma dessas lavouras, plantada na encosta da qual se vê a piscina da Yara repleta de banhistas. Ao fundo, o imponente prédio do hotel, com seu saguão tomado por frequentadores de Termas Yara. Vamos encontrar nessa lavoira, um ainda adolescente “catador” de algodão, que trabalha e sonha a um só tempo. Enquanto as suas mãos ágeis vão tirando das ressequidas “maçãs” a alva pluma de tão vasto uso industrial, a sua imaginação o transporta para junto da feliz e despreocupada turba de adolescentes “brigando” por uma vaga sob o “chapéu” do chafariz que abastece a piscina. De repente, uma “espetada” no dedo tira-o do seu devaneio e lhe mostra que aquela “festa” não é para ele, cujo minguado ganho vai integralmente para “ajudar nas despesas da casa”; jamais para tal mordomia. Mas anos depois e já então com 20 anos, o nosso “catador” de algodão vai para Campinas, onde morou uns tempos com uma irmã e tempos depois, já afeito à cidade grande, segue para São Paulo. Ali, arruma emprego e começa a entregar “panfletos” em frente à Bolsa Paulista de Valores. Com constância, curiosidade e muita vontade de vencer, lhe socorreu o acaso e um bom conselheiro; ele, que economizara algum dinheiro com seu novo trabalho, se vê surpreendido estreando como micro investidor e “operador” na Bolsa de Valores.

Passam-se duas décadas (e agora já estamos no presente) e o “operador” da bolsa, já um homem casado, está gozando férias em sua terra natal (Santa Mariana). Ali ele é informado que o dono de Águas Yara, por dificuldades financeiras, decidiu pô-la à venda, uma notícia que acelerou seus batimentos cardíacos. Procurou saber o preço pedido pelo proprietário da Yara e uma vez informado dele, avistou-se com o mesmo e em menos de quarenta e oito horas tinha em mãos um instrumento particular que declarava ser ele o novo dono de Termas Yara.

À guisa de uma réplica do filme “De volta para o futuro”, o “operador” da Bolsa de Valores de agora, garantia ao adolescente “catador” de algodão do passado, a delícia de mergulhar nas águas da piscina e ficar – ele e a esposa – sentindo a água do chafariz jorrar sobre seus corpos. Seu nome: Cláudio Delgado e o nome de sua esposa, Rafaela Silva Martins.

Encerramos este, o mais longo dos artigos sobre Águas Yara, informando que o casal Cláudio e Rafaela estiveram na quinta-feira, 16 de dezembro, em nossa residência (quando ele nos contou a sua história). À vista dos documentos comprobatórios de serem os donos de Termas Yara e dos planos que têm para ela, estamos seguros, na nossa experiência de toda uma vida como cartorário, que esse casal a conduzirá ao destino que Domingos Regalmuto e Paschoal D’Andrea sonharam para a “Deusa das Águas”. E que ela estará, então, para a nossa alegria, despertando de um longo e profundo sono, trazendo aos bandeirantenses e aos visitantes, a esperança de reviver os dias felizes de outrora, que povoam a lembrança das antigas gerações e certamente farão parte da história das gerações que estão por vir.

Deputado estadual Luiz Cláudio Romanelli respondeu ao ofício do articulista com os dados solicitados

* Walter de Oliveira, 89, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932

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