João Francisco Lucena, pioneiro em confeitaria e a ainda noiva Rizoleta (foto cedida pela filha Cleuza, de Maringá)

Os Pioneiros, por ramo de atividade no povoado (De 1931 a 1950)

Décima Nona Parte

*Walter De Oliveira

Iniciamos hoje este artigo – que continuará a listar os nossos pioneiros do povoado da estação e da cidade – relembrando parte do pronunciamento de 19/12/1949, do então governador Moisés Willie Lupion de Tróia, na II Conferência de Prefeitos do Paraná, intitulado “Paranismo”. Em homenagem à memória daquele grande paranaense de Piraí do Sul e dos nossos pioneiros dos anos 1931/1950, que ora listamos, adaptamos a parte que reproduzimos do seu discurso, nestas linhas, e que renomeamos de “Bandeirantismo”.

“Foi BANDEIRANTISTA todo aquele que vadeou um rio, dormiu sob uma árvore, sentindo de perto o palpitar da terra; aquele que trouxe para o município, a semente da sua fé, afim de plantar no solo fértil as suas esperanças fagueiras nos destinos gloriosos do nosso torrão; aquele que em terras de Bandeirantes, levantou os seus olhos para o Cruzeiro, erguendo também suas vistas para o alto, depois de ter suado no amanho da terra, agradecendo à Providência o fruto centuplicado de suas canseiras; aquele que, vindo de qualquer parte, trouxe sua contribuição para que nós pudéssemos estabelecer os rumos seguros e balizar uma estrada de acesso; aquele homem de fala estranha, que aqui veio à procura do que fazer e, no convívio do nosso esforço e nossa labuta, amou a terra; aquele que abriu uma cartilha para dar luz a um espírito inculto, a uma criança sedenta de calor; aqueles que fizeram de nossas escolas primárias, um escudo e trincheira para os valores de nosso espírito. Foram BANDEIRANTISTAS e, como tais, nossos irmãos, bandeirantenses, todos aqueles que trouxeram no amálgama de seus esforços, os elos que formaram a corrente da fé que chegou até nós, que, todos juntos, havemos de fazer maior a grandeza desta terra e a felicidade de nosso povo”.

Antônio Lopes de Carvalho, pioneiro da carpintaria (foto cedida pela família)

Este preito de reconhecimento a todos os nossos pioneiros, está cristalizado à página 66 do livro de Solano Medina, a cujo meritório trabalho devemos muito dos nomes e fatos formadores da nossa memória municipal. E foram também as referências nele contidas que nos levaram aos demais nomes e fatos que completarão este nosso trabalho de resgate histórico.

Retornando à listagem dos nossos pioneiros na compra e beneficiamento de café, vamos encontrar na letra “l” o nome de Said Abrão Abdalla. Descendente dos países do oriente, Abdalla foi um dos maiores “experts” na compra e venda de café à época. Profissional autônomo, seu escritório ficava numa sala da sua ampla residência, a mesma em que ainda moram descendentes seus e que se situa na esquina das ruas Benedito Bernardes de Oliveira e Frei Rafael Proner. Casado com dona Izaurina Andrade Abdalla, o casal teve os seguintes filhos: Hugo, Haroldo, Hércules, Inês e Izaurina. Said Abdalla cerra a fila dos pioneiros nesse ramo, porquanto os demais que se seguem na listagem de Medina, já foram mencionados em artigos anteriores. Roberto Casali Pavan lembra que o seu avô Ângelo Pavan (dono da Fazenda Carvalhópolis e que tinha depósito de café beneficiado, onde hoje é hoje a Butiban), sofreu grande prejuízo com o destelhamento de prédios em razão de um temporal. Agradecemos e o detalhe será anotado no capítulo dos fazendeiros pioneiros.

Na sequência alfabética das atividades pioneiras, listamos o ramo de confeitarias, no qual Medina cita: a) João Francisco Lucena, mais conhecido por João Lucena. A sua confeitaria ficava na antiga rua Goiás, hoje Frei Rafael Proner e que anos depois, ele a venderia para Renato Dalben, e cujo nome era Confeitaria Bengala, vendida depois, já na década de 1950, para o senhor João Moura. O pioneiro João Lucena foi casado com dona Rizoleta, com quem teve os filhos Cleuza, Cleonice, Clóvis, Claudinei, Cleuzana e Hermes.

b) Juversino de Assis Teixeira. Esse foi o fundador da confeitaria que mais tarde foi vendida para Michel Kalil Abrão, e que era situada onde está hoje o Lojão do Queima (informação passada pelo leitor Paulo Sidney Zambon, genro de Kalil Abrão). O pioneiro Juversino de Assis Teixeira (que por anos foi Juiz de Paz do município) já o conhecemos viúvo e era pai de Ormeu, Barão e Ladislau.

O rol dos pioneiros mencionados por Medina contempla também Olívio Mathias, o único, ao que sabemos, que se dedicava à fabricação artesanal de cestas e balaios. Dele, nada mais sabemos a não ser o nome.

Vamos agora à listagem de um dos mais antigos profissionais de que se tem notícia na história mundial. Falamos dos “Carpinteiros”. Pela ordem alfabética, vamos encontrar na letra “a” o nome de Álvaro do Nascimento, do qual e infelizmente a única referência continuará a ser o seu nome, posto que debalde foram as nossas buscas a seu respeito.

b) Antônio Lopes de Carvalho. Diferentemente do seu sobredito confrade de profissão, seo Antônio Lopes foi pessoa que conhecemos bem, e do qual nos lembramos ser um profissional dos mais hábeis e requisitados do ramo. À época sequer se falava na região de arquiteto que respondesse pelas construções, sobretudo em se tratando de casas de madeira, cujos modelos e estilos ficavam por conta da criatividade do construtor. E nisso, seo Antônio era dos mais hábeis, se dando ao luxo de não precisar ficar replicando o mesmo modelo nas muitas casas que construiu. Era o que se poderia chamar de um mestre do serrote, da plaina manual, da enxó, do formão, do prumo, do nível e do que mais fosse necessário a manusear no seu humilde, mas nobre labor. Dos seus familiares conhecemos os filhos Osvaldo e Carmem. Em meados da década de 40, mudou-se para Maringá, onde ainda construiu muitas moradias e encerrou os seus dias de vida.

c) Augusto Valentim. Profissional também dos mais requisitados, uma das coisas que temos lembrança é que foi ele quem construiu, em madeira (e nela morou por todo seu tempo de Bandeirantes) a casa da atual rua Juvenal Mesquita, onde por décadas, residiu o saudoso prefeito Jamil Fares Midauar (a casa hoje é de alvenaria). Augusto Valentim foi casado com dona Ursulina Zinoni e teve os seguintes filhos: Nair, Eris, Gecy, Ruth, Aldo e Alba.

(continua…)

* Walter de Oliveira, 89, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932

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