Chaminé da antiga Destilaria Fazenda Água Branca, tendo ao lado porção (remodelada) do prédio que a abrigava

Os Pioneiros, por ramo de atividade no povoado (De 1930 a 1950)

Trigésima Quinta Parte

Walter de Oliveira*

Com muita coisa ainda por ser feita no tocante ao resgate da nossa história, voltamos, aos seus construtores, ou seja, aos pioneiros do povoado da estação e da cidade, nos anos 1930/1950, quando nos ocupamos em listar os fabricantes de bebidas.

Paramos no artigo anterior falando do primeiro fabricante de cachaça do município, João Affonso, que se lançou nesse mister num tempo em que não se conhecia e nem tampouco se ouvia falar nas modernas aparelhagens de destilação, a partir das reluzentes e eficientes “colunas metálicas”. Informa-nos Rafael Affonso, neto do pioneiro em questão, em sua página no Facebook, que seu pai, Rubens Affonso lhe contava que enquanto o avô rudimentarmente alambicava a cachaça, ao mesmo tempo “escorria” o melado mais denso em balaio, de cuja curiosa operação resultava alguma porção de açúcar mascavo. Ou seja, além de pioneiro na fabricação de cachaça, João Affonso o foi também no fabrico de açúcar, embora em pequena escala. Temos então que a primeira plantação intensiva de cana-de-açúcar no município esteve a cargo do pioneiro João Affonso. Dizemos intensiva por já então existirem aqui plantações de cana para subsistência animal e produção de garapa e rapadura (caso de João Alagoano, Água das Perobas, em 1905/1910). Aliás, sobre as lavouras canavieiras de João Affonso, ouvimos do próprio Comendador Luiz Meneghel (ao tempo de nossa longa convivência com ele), que um dos motivos de haver ele se decidido a aqui instalar a sua usina, foi a exuberância dos canaviais de João Affonso, de quem Luiz Meneghel terminaria sendo um grande amigo. Com a chegada da estrada de ferro à região (julho de 1930), informa-nos Rafael Affonso que seu avô foi um dos primeiros a utilizá-la, quando através dela mandava para outras regiões, tanto a “Cachaça Bandeirantes de João Affonso” (era o nome de sua cachaça), quanto o açúcar mascavo que conseguia produzir na Porteira Preta, nome da propriedade onde erigira o seu pequeno complexo fabril e plantara o seu canavial. Aliás, o nome Porteira Preta, acabou sendo o nome de todo o bairro rural adjacente ao engenho.

Outros detalhes de interesse histórico sobre seu avô, são ainda relatados por Rafael Affonso, e um deles é ele montou um time de futebol amador, que atuava sob o seu comando, e que o goleiro do time era Carlos Meneghin, que viria a ser o patriarca da tradicional família Meneghin, do bairro Ribeirão dos Índios. E ainda sobre esse goleiro, conta-nos Rafael Affonso que seu pai lhe dizia que o próprio João Affonso é quem ia, a cavalo, buscar (e levar de volta) Meneghin para as partidas de futebol, muitas das quais em campeonatos de fim-de-semana, entre times de outros bairros rurais. Por fim, relata Rafael, que seu avô decidiu dar novos rumos aos seus empreendimentos. Aí, vendeu a área agrícola e as instalações fabris ao seu amigo Luiz Meneghel e comprou uma frota de caminhões alemães, que por algum tempo deixou a serviço (contratado) de Luiz Meneghel e tempos depois decidiu mudar-se para São Paulo, indo consigo a esposa e alguns filhos, posto que dois (Rubens e Romeu) ficaram em Bandeirantes. Sobre Rubens Affonso, o filho primogênito do pioneiro, falaremos em artigo futuro destes “Fragmentos”. O pioneiro João Affonso, segundo informações de sua neta Áurea Affonso, foi casado duas vezes. A primeira com dona Antônia Farias Affonso, com quem teve os filhos Rubens, Romeu, Renato, Elisa e Lila. O segundo casamento foi com dona Áurea Negrão Affonso e o casal teve os filhos Ruth, Clélia, Anita, João Affonso Filho, Raul, Reinaldo, Lenine e Nilton (ou Newton).

Rótulo dos produtos da Destilaria Bandeirantes, de Osten & Giovanetti (imagem retirada do livro “Bandeirantes – de Solano Medina).

b) Alambique Água Branca. Este alambique foi construído na fazenda que lhe emprestou o nome e que era lindeira com a Fazenda Santa Rita, ambas então pertencentes ao pioneiro Juvenal Mesquita, nome de rua e escola de nossa cidade e um dos seus grandes vultos. O construtor desse alambique foi o economista João Conrado Mesquita, filho do pioneiro e que à época respondia pela administração de ambas as fazendas. Denominada “Cachaça Fazenda Água Branca”, a “caninha” (um dos muitos nomes dessa popular bebida) dos Mesquita foi, à sua época, de grande aceitação pública. Todavia, não sendo esse ramo o carro-chefe daquela tradicional família, o alambique foi desativado e posteriormente, a própria fazenda foi dividida em áreas menores e vendidas a diversos proprietários rurais, donde resultou o conhecido bairro rural Água Branca, dos melhores localizados, produtivos e valorizados do município. Do alambique propriamente dito, restam, como lembrança de sua época, a solitária chaminé e o prédio que o abrigava, agora remodelado e destinado a outros usos.

c) Destilaria Bandeirantes. Esta destilaria pertencia à empresa Osten & Giovanetti e se dedicava à fabricação de licores e guaraná, sendo que o seu principal produto era o “Guaraná Imperial”. Integravam a empresa os pioneiros Aldivar Von der Osten, Odair Von der Osten e José Giovanetti, e ela era estabelecida à Avenida Bandeirantes, na altura onde hoje se acha o escritório de advocacia Maikon Ribeiro Richter.

(continua…)

* Walter de Oliveira, 90, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932

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