Walter de Oliveira*
Quinquagésima Oitava Parte
Vamos hoje para os últimos “fragmentos” deste mês de outubro, quando continuamos a listagem dos pioneiros do povoado da estação (anos 1930/1950), o que fazemos por seus ramos de atividade, e nos louvamos em sua grande maioria dos registros feitos no livro “O Município de Bandeirantes”, de Solano Medina (1950).
Para possíveis leitores que só agora estão lendo nosso modesto trabalho, lembramos que o supracitado livro foi a primeira publicação, em formato de livro, a registrar pessoas e fatos relacionados à história de Bandeirantes. E conquanto seja um trabalho histórico-estatístico não mais que singelo, terminou sendo da maior utilidade no fornecimento de informações indispensáveis para este nosso trabalho.
Como já dissemos de outra feita (e nunca é demais repetir), nascidos que somos nesta terra em 1932, tivemos estreita participação na sua história (seja como espectador ou agente), até pela relação de trabalho e amizade com muitos dos pioneiros locais, dentre os quais João Cravo, Eurípedes Rodrigues e Ozório Gonçalves Nogueira, todos com destacada atuação nos primeiros tempos de existência de Bandeirantes. E corroborando essa nossa relação com a cidade e seus pioneiros, o livro de Medina tem um papel significativo.
Feito este introito, voltamos à listagem dos nossos pioneiros, quando nos ocupamos dos donos de “moinhos de fubá”. Estávamos na letra “b” e falávamos do pioneiro Flávio Cioffi, que na verdade já se acha listado na 14ª parte destes “fragmentos”, como “beneficiador de arroz e milho”, cujo produto resultante deste, obviamente, era o fubá, e onde comentamos sobre os demais dados deste pioneiro. E lembramos aos leitores que não têm acesso às edições impressas anteriores do Jornal Folha do Norte Paranaense, que podem encontrar todos os nossos artigos na página do jornal no Facebook ou então em nossa página na mesma rede (Bandeirantes /PR – História e Registros Históricos).
c) João Enami. Filho dos imigrantes japoneses Suezo e Kichi Enami, João Enami foi casado com Tesuyo Emoto. Veio para Bandeirantes, procedente de Avaré (SP) e mais tarde mudou-se para Dourados (MS), onde faleceu. São essas as únicas informações que conseguimos a seu respeito, graças ao registrador público Silmar Cordeiro de Souza, a quem agradecemos.
d) Manoel Marques Godinho. “Seo Godinho”, como era por todos conhecido, foi dos primeiríssimos pioneiros e já está listado como “comerciante no ramo de bares” e de “beneficiamento de arroz e milho”, também na 14ª parte destes “fragmentos”, onde os leitores irão encontrar todas as referências ao ilustre pioneiro.
Encerrada a listagem destes pioneiros, vamos agora ao registro do “único pioneiro” que se dedicava ao ramo de compra, extração e venda de “madeira bruta”. Ezequias Nogueira de Souza era o seu nome. Natural de Jacutinga (MG), esse pioneiro veio para o Paraná em 1929, na mesma caravana de 28 pessoas (adultos e crianças), dentre as quais os nossos pais e as nossas irmãs Elisa e Maria; estas, hoje as únicas sobreviventes de uma histórica viagem de oito dias até a fazenda Nossa Senhora da Conceição (mais conhecida por Fazenda Pinto Lima), contratados – todos os seus integrantes em condições de trabalho – sob o regime de colonato.
Toda a região – salvo alguns incipientes cultivos de café – era coberta pela levantada e densa mata, característica do norte paranaense. E foi nessa dura vida de colono, que o ainda jovem Ezequias permaneceu até o ano de 1937, quando, acompanhando o seu irmão mais velho (José), veio para a cidade, já então e há 3 anos, sede do município. Dotado de grande capacidade de comunicação e aguçada visão comercial, Ezequias logo fez amizade com os irmãos Baruque e José Moretti, filhos de Antenor Moretti, que era dono da segunda maior serraria da cidade.
Foi nesse relacionamento que ele vislumbrou o “filão de ouro” que seria comprar madeira ainda “em árvore”, extraí-la, e através da ferrovia, levá-la às dezenas de serrarias de São Paulo, cujo consumo não tinha medida, e por isso não regateavam o preço de uma boa mercadoria, como o eram as perobas-rosa, os cedros, os marfins e dezenas de outras “madeiras de lei”, que abundavam em nossas matas de então.
Inicialmente, e face aos parcos recursos amealhados na dura lida de colono, as suas remessas mensais de toras para São Paulo eram de um, ou quando muito, dois vagões. Todavia, a “boa qualidade” da sua mercadoria, a regularidade de entrega e a sua grande capacidade de relacionamento, o tornariam, em menos de um ano, num dos maiores comerciantes desse ramo. Tanto que nos anos 40/50, os vagões-gôndolas (abertos e com “fueiros”) que vinham para a estação de Bandeirantes, e levavam as toras para São Paulo, já não eram suficientes para a sua demanda. Foi quando Ezequias passou a fazer essas remessas através da estação ferroviária de Ourinhos (SP). E foi por essa época que nós, acompanhando o nosso pai (que era tio do pioneiro), deixamos a lida nos cafezais e passamos, por alguns anos, a trabalhar com ele.
Este único pioneiro do ramo, que aqui atuou, e que posteriormente mudou-se para Ourinhos, dedicou-se à dita atividade até o ano de 1973, quando foi vitimado em um acidente automobilístico, ao regressar de uma viagem de trabalho, dirigindo o próprio carro. Mas seguiram os seus passos os filhos Paulo e Oscar (este também vitimado em acidente automobilístico), e o neto Bruno, que atua no ramo, na referida cidade paulista. Ezequias foi casado com Maria Bomediano de Souza, e o casal teve os filhos Paulo, Cleusa, Clélia, Cleide, Oscar e Sílvia.
Continua.
* Walter de Oliveira, 92, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932