* Por Walter de Oliveira

O ano era o de 1930, e a nossa região, era então coberta por uma densa e encipoada mata, com frondosas árvores de peroba, cedro, marfim e outras madeiras de lei. Dois rios, Cinzas e Laranjinha cortavam a inóspita selva e nos seus afluentes abundavam cardumes de peixes, que somados às muitas frutas silvestres, garantiam o alimento dos índios Caingangues (Nação Coroados), que habitavam a região.

Ao mesmo tempo, lá na capital paulista, um jovem de 24 anos de idade, natural de Pradópolis-SP, jornalista e professor na Escola de Comércio Álvares Penteado, sonhava em conhecer a nova fronteira de que tanto se falava nas “rodas” paulistanas: o Norte do Paraná. Por fim, decidiu-se e nos primeiros dias de julho de 1930, ele e sua jovem esposa figuravam entre os passageiros da viagem inaugural do trem-de-ferro que, partindo da velha Estação da Luz, em São Paulo, tinha por destino a recém-inaugurada estação construída no coração da selva norte-paranaense, a três quilômetros do distrito de Bandeirantes, nome do povoado da “Invernada”, um ajuntamento urbano aqui surgido, entre os anos de 1906 e 1910. Mal a potente locomotiva parara na caixa d’água para “matar sua sede” e se abastecer de lenha, o jovem casal desembarcou. Ele, moreno, pequena estatura, semblante circunspecto, passos firmes. Ela, elegante, pouco mais alta que ele, porte garboso e aristocrático. Eram Ozório Gonçalves Nogueira e sua esposa Ismênia Loretti Nogueira, dos quais, mais tarde, muito se ouviria falar em Bandeirantes, mercê da vida produtiva que aqui levariam. Exemplo: ela foi a primeira professora do “Povoado da Estação”, mais tarde, sede do Distrito e do Município.

Em poucos dias Ozório Nogueira (como era chamado) conheceu Eurípedes Rodrigues, dono das terras que abrigou a estação e suas adjacências e se compôs com este, fundando a firma “Mesquita e Nogueira”, promovendo o loteamento do entorno da estação, início da nossa Bandeirantes de hoje. Foram também eles, ao lado de pioneiros como Alberto Faria Cardoso, Octacílio Arantes, Antenor Moretti, José Gabeloni, Pompeo Tomasi, Pedro Bellan, Lysandro Junqueira, Idalino Cipriano Carneiro, Josué Alves Aranha, Asdrubal de Figueiredo Gizzi, João Affonso e tantos outros, os responsáveis pelas primeiras e mais importantes conquistas que a nossa cidade alcançou. Esses dois ilustres pioneiros – Eurípedes e Ozório – foram ainda, os grandes protagonistas da nossa emancipação política, que se deu em 14 de novembro de 1934, para cuja criação muito ajudou a reportagem que Ozório escreveu, publicada na Gazeta do Povo, de Curitiba em 24 de junho de 1934, primeiro relato jornalístico sobre o distrito judiciário de Bandeirantes e que foi anexado ao processo de criação do município.

Decorridos 17 anos de sua chegada a Bandeirantes (1947), foi nomeado prefeito do município pelo Governador Moysés Lupion e cujo curto mandato (9 meses e 4 dias) foi suficiente para que ele deixasse as marcas da sua capacidade administrativa, construindo o prédio que sediou a Prefeitura até o final de 2008 e mais aqueles onde funcionam a Câmara Municipal, a Secretaria da Agricultura e outros. Ozório foi além e sua atuação administrativa chegou até Santa Mariana, então distrito administrativo e judiciário subordinado a Bandeirantes e lá construiu a Escola Municipal “Carmela Dutra”, ainda em funcionamento. Eleito vereador, presidiu a Câmara Municipal, foi um dos fundadores do Rotary Clube de Bandeirantes, fundou a ACIAB (Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Bandeirantes) e a Associação Rural de Bandeirantes, depois transformada no Sindicato Rural de Bandeirantes, Santa Amélia e Itambaracá.

Foi também professor do ginásio estadual e da escola de comércio locais, onde lecionou português, francês e contabilidade, tendo por alunos, dentre outros, Serafim Meneghel (de saudosa memória), Roldão e Paulo Sidney Zambon. Em 1948, com a criação da comarca, foi nomeado Oficial do Cartório de Registro de Imóveis.

O governador Moysés Lupion disse que paranista é todo aquele que trouxe para o nosso Estado a semente da sua fé, a fim de plantar no solo fértil as suas esperanças fagueiras nos destinos gloriosos do nosso torrão; aquele homem de fala estranha, que aqui veio a procura do que fazer, e que no convívio do nosso esforço e nossa labuta, amanhou a terra, abriu uma cartilha para dar luz a um espírito inculto, à uma criança sedenta de saber”. Assim procedendo, Dr. Ozório e sua esposa Dona Ismênia se fizeram paranistas.

Em boa hora e num ato de justiça, o ex-prefeito Celso Silva solicitou ao deputado estadual Luiz Cláudio Romanelli, que apresentasse projeto de lei na Assembleia Legislativa dando o nome de “Doutor Ozório Gonçalves Nogueira” ao CEEP – Centro Estadual de Ensino Profissionalizante, situado no Jardim Yara (um dos oito existentes no estado). Uma justa homenagem a um pioneiro que tanto fez pelo município e sequer uma rua de nossa cidade levava o seu nome (falta homenagear Dona Ismênia).

* Walter de Oliveira, 88, natural de Bandeirantes, serventuário da Justiça aposentado. Conheceu e foi amigo de Ozório Nogueira desde os 10 anos de idade.

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