Numa conversa entre amigos, falávamos sobre o Ministro da Ciência e Tecnologia, que é astronauta, porque um dos que estavam na roda de conversa, estudou com ele no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica, uma das instituições de ensino superior mais difíceis de ingressar). E foi citado um livro, Endurance um ano no espaço de Scott Kelly (sobre um cosmonauta que ficou durante um ano no espaço numa missão), que despertou a minha curiosidade.
Uma coisa que me chamou a atenção, que acredito ser um requisito básico (fora os conhecimentos técnicos) e de extrema importância, é a inteligência emocional, uma vez que, ficar confinado num espaço minúsculo durante um ano (isso já seria difícil durante um mês para mim), com dificuldades para ir ao banheiro (leiam o livro para saber como o fazem), com comida que de repente sai “voando” pela ausência de gravidade (nada para no lugar se não for grudado em velcro), não é para qualquer um. Mas uma coisa boba que me chocou, foi escovar os dentes e ter que engolir a saliva com o creme dental, porque num lugar daquele, cuspir é algo fora de cogitação. Foi nesse momento que eu pude entender um pouco o significado da palavra “resiliência”, que é a capacidade de adaptação a mudanças (ok, aqui não vamos nos aprofundar nos aspectos filosóficos e outros, envolvidos na definição da palavra).
Vocês conseguem imaginar a mudança de um hábito corriqueiro, para se adaptar às circunstâncias? Alguns são fáceis de mudar. Mas no caso acima citado, engolir em vez de cuspir, me pareceu no mínimo esquisito.
Imaginem então, conviver com poucas pessoas durante esse período de tempo, sendo que algumas são de outros países, e consequentemente, de culturas totalmente diferentes?
Por mais que se tenha o conhecimento cognitivo/técnico, ser um “expert” em relacionamentos, é básico para a sobrevivência nessas condições.
Um exemplo é você ter o conhecimento técnico de que um dos sintomas que podem ocorrer quando aumenta o nível de gás carbônico (que expelimos durante a respiração), é a irritação. Mas ser capaz de perceber isso e ter resiliência para lidar com essa adversidade, só é possível através da inteligência emocional, da empatia, ou seja, conhecer os nossos processos emocionais e ser capaz de reconhecer que os outros são diferentes, com outros processos emocionais, outras histórias, outros paradigmas.
E eu aqui, ingenuamente pensando que para trabalhar para a NASA, bastava ser muito inteligente e ter uma grande capacidade cognitiva. Agora vamos trazer essas mesmas informações para os nossos trabalhos, ou mesmo para a nossa casa. A importância da empatia, de reconhecer que os outros são os outros, diferentes de nós, continua valendo. Mesmo dentro de uma família, as pessoas que fazem parte dela são diferentes e principalmente os irmãos, que são criados pelos mesmos pais e recebem o mesmo tipo de educação.
Mas é possível sim, melhorar essa capacidade de entender que as pessoas são diferentes, portanto, agem de forma diferente frente a um mesmo estímulo.
Em primeiro lugar, precisamos nos conhecer. Saber que agimos de certa maneira frente a determinadas situações. Assim poderemos agir de forma mais assertiva nos relacionamentos tanto pessoais, quanto profissionais.
O segundo ponto, é tentarmos nos colocar no lugar do outro. É claro que nunca vamos poder saber como o outro está se sentindo de fato, por mais que as experiências sejam parecidas, pois isso só seria possível se as nossas terminações nervosas estivessem ligadas ao corpo dele. Mas tentar entender através do diálogo, como ele está se sentindo, é o primeiro passo.
Isso pode evitar muitos dissabores e conflitos desnecessários.
E cada pessoa tem uma história de amores e dores, que muitas vezes mantém para si. Entender isso, nos torna mais compassivos e menos egoístas. E eu acredito firmemente que essa é a base para melhorar muitas coisas, não somente nos nossos núcleos familiares e profissionais, mas no mundo.