Eugênio Pereira da Silva, ou Eugênio Macaco e esposa (cujo nome o autor não ficou sabendo)

INVERNADA, O BERÇO DE BANDEIRANTES

(PRIMEIRA PARTE)

* Por Walter de Oliveira

Até o início do ano de 1900, quem sobrevoasse a nossa região não veria mais que um belo e imenso tapete verde-escuro. Era a mata virgem e exuberante que cobria essas terras roxas, que em poucos anos seriam famosos e comentados no mundo inteiro. Era o sertão no seu estado primitivo, habitado unicamente pelas espécies da sua rica fauna e pelos índios Caingangues da Nação Coroados, assim chamados – segundo o historiador João Carlos Ferreira – pelo jeito de cortarem os cabelos, formando uma “coroa” em suas cabeças. Vivendo da caça, pesca e frutas silvestres abundantes na região, eles jamais suspeitariam, que passada a estação das chuvas do sobredito ano, começaria a contagem regressiva para o fim do seu reinado e daquele santuário da natureza. À semelhança da ostra, que é capturada e morta por causa da valiosa pérola escondida em suas entranhas, aquelas verdejantes matas seriam postas abaixo, para que aflorasse a riqueza que jazia sob a sua espessa ramagem: a terra em que medraram e cresceram, uma das mais férteis do planeta e dos quais se colheria generosas safras de variados cultivares – com realce para o café -, fontes geradoras de grandes fortunas e de sustento do erário público.

Diz reportagem de Ozório Gonçalves Nogueira, publicada na Gazeta do Povo (Curitiba), em 20 de junho de 1934, reproduzindo informação de Alcides Alvim Rezende, antigo morador da região, que no início do século passado, aqui chegou o engenheiro Carlos Borromei, o primeiro homem branco a pisar essas terras. Borromei veio para cá por ter sido nomeado perito judicial na ação de demarcação da “Posse Fazenda Laranjinha”, um latifúndio de 50 mil alqueires de terra, que ia da margem esquerda (água abaixo) do Rio das Cinzas até o Ribeirão do Veado, nas proximidades de onde está hoje a cidade de Cornélio Procópio. À falta de outro meio de transporte àquela época, Borromei e seus homens (“picadeiros”, cozinheiro e outros) se valeram para a viagem que fizeram, do meio de locomoção então mais conhecido e utilizado: lombo de burros (tanto para pessoas como para mantimentos, tralhas de serviço e etc.). Cessado o período das chuvas, partiram de Curitiba, onde moravam (Borromei era funcionário do Departamento de Terras do estado) e seguiram rumo a Castro – Piraí do Sul – Jaguariaíva – Tomazina – Santo Antônio da Platina – Jacarezinho e daí até encontrar a estrada (na verdade uma “picada” em meio a mata) por quem vinha das bandas de Ourinhos/SP com destino ao Rios das Cinzas, pela qual continuaram até o dito rio, cuja travessia – à falta de balsa ou canoa) foi feita à vau. Já com os pés em terras da “Posse Fazenda Laranjinha”, tomaram o rumo norte e prosseguiram, agora abrindo “picada” mata adentro, à distância aproximada de 10 a 12 quilômetros, quando Borromei decidiu pôr termo àquela lendária viagem. E foi ali, no local dessa parada, quando as foices Pedro Wermes e os machados Collins abriram a primeira clereira naquele milenar sertão, que começou a ser escrita a história de Bandeirantes. Naquele lugar, Borromei ergueu o seu acampamento, do qual, durante 4 anos, comandou os serviços de demarcação e divisão de uma das maiores possessões territoriais do Paraná: a “Posse Fazenda Laranjinha”, como já dito, 50 mil alqueires de terra. O local em que o acampamento foi erguido ficava um pouco além de um córrego, depois batizado de Água das Antas (pelo número desses animais que ali era visto), na encosta defronte onde hoje está a casa-sede da fazenda de D. Emília Cravo.

Terminados os trabalhos topográficos a seu cargo, Borromei e seus homens, segundo Alcides Alvim, se retiraram da região, que permaneceu sob o domínio dos Coroados até 1926, quando chegaram os primeiros colonos (reportagem de 20 de junho de 1934). O autor abre aqui um parêntese para dizer que há fatos concretos divergindo, ao menos em parte, da informação de Alvim, conforme será detalhado no livro “Bandeirantes, do Sertão às Universidades” (em fase de conclusão) e que será lançado em novembro de 2022, no aniversário de 90 anos da criação do município. Fechado o parêntese, voltemos à história.

Uma vez desativado e abandonado o acampamento de Borromei, cresceram no seu entorno alguns pés de capim, que em pouco tempo viraram um pequeno pasto, que as poucas pessoas que ali apareciam (geralmente caçadores e pescadores) começaram a chamar de invernada. Dessas pessoas, algumas chegavam mesmo a pernoitar no acampamento então abandonado. E uma delas foi Eugênio Pereira da Silva, também conhecido por Eugênio Macaco (que vem a ser bisavô do ex-radialista e ex-vereador Pedro Ferraz da Silva, o popular Pedrão). Eugênio não só ali pernoitou por várias vezes, até que por fim, no ano de 1910, vendo futuro no lugar, deixou a cidade onde morava (Palmital/SP) e acompanhado da mulher e filhos, mudou-se para invernada, onde viveu até seus últimos dias. Quem contou isso ao autor foi Alípio Pereira da Silva, também conhecido por Carlito Macaco, neto de Eugênio Macaco. A informação de que Eugênio Macaco era dos mais antigos moradores da invernada foi confirmada por Rolando Marcondes, o “Lota” (pai do Nandinho da Casa dos Vidros), que aos seis anos de idade, em 1922, procedente de Bauru/SP, veio para invernada com seu genitor Alfredo Marcondes e os irmãos Celso e Armando; e a terceira pessoa a confirmar Eugênio Macaco como dos mais antigos moradores de invernada foi Benedito Leite de Negreiros (pai de Estevão e Elias Negreiros – Casa Renascença), que em 1927, ele, seu pai Estevam Leite de Negreiros e o irmão Osvaldo, deixaram Ribeirão Claro/PR e vieram para invernada, onde se estabeleceram inicialmente com o ramo de açougue, e posteriormente, de ferragens. As três pessoas que o autor cita como suas informantes, o autor conheceu ao tempo de suas atividades de cartorário.

(Conclusão na próxima edição)

* Walter de Oliveira, 88, nasceu em 1932, na Fazenda Pinto Lima. Serventuário da Justiça aposentado.

1 COMENTÁRIO

  1. Sempre leio o artigo fragmentos da história
    Nasci em Bandeirantes há 60 anos
    Hoje moro em Chapadão do Céu GO
    Gosto destes artigos também sou leitor deste interessante e importante jornal

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