Gostaria de começar hoje com um texto de Rubens Alves, “A escutatória”.
“Sempre vejo anunciados cursos de oratória.
Nunca vi anunciado curso de escutatória.
Todo mundo quer aprender a ouvir.
Pensei em oferecer um curso de escutatória.
Mas acho que ninguém vai se matricular.
Escutar é complicado e sutil…
Parafraseio o Alberto Caieiro: Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio da alma.
Daí a dificuldade: a gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer…
Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos…”
O texto continua, mas só com a parte citada, já deu para perceber do que se trata: a difícil arte de silenciar a nossa mente e ouvir o que o outro tem a dizer. Ouvir não somente com os ouvidos; ouvir com todos os sentidos, sentir o que o outro está querendo dizer, que sentimentos ele está demonstrando.
Na maioria das vezes, ouvimos para responder e não, para entender o outro.
Nosso ego e nossa vaidade nos colocam num diálogo interno sem fim, numa busca desenfreada pela melhor resposta, pela mais inteligente e sábia.
Claro, não queremos parecer bobos ou parecer que não sabemos o que dizer diante do que o outro verbalizou. Mal prestamos atenção ao que ele está querendo comunicar.
Pescamos uma frase aqui e ali, mergulhamos em elucubrações para dar uma resposta “uau”, mega inteligente.
Que atire a primeira pedra quem nunca fez isso!
E infelizmente esse tipo de escuta que não escuta, não estabelece uma conexão com as pessoas.
Mas podemos exercitar a arte da escuta ativa: parar, respirar, olhar para a pessoa que está falando, ouvir com o corpo todo, como se não houvesse mais nada e nem ninguém à volta, estar presente. E isso é um presente para a pessoa:, a dedicação integral daquele momento para acolher o que ela está querendo nos comunicar. É um ato de gentileza e generosidade…